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Até que o amor me mate

No âmbito das celebrações dos 500 anos do nascimento de Camões, no passado dia 20 de fevereiro, a biblioteca do Conservatório de Música recebeu a escritora Maria João Lopo de Carvalho, que veio falar do seu livro Até que o amor me mate, sobre Camões e sobre o percurso que a levou a descobrir o grande poeta Luís Vaz de Camões.

Tinha quinze anos e só queria que a aula acabasse. Dividir «orações» n’Os Lusíadas era para mim um martírio. A tirania dos decassílabos, a cadência obrigatória da rima, o labirinto das estrofes cegavam-me. Não conseguia ver nem a beleza nem a grandeza de que me falavam. Depois rendi-me. Demorou tempo, mas aconteceu: rendi-me. Um dia acordei com uma história para contar. Uma história emocionante, divertida, triste também. Uma história feita de grandezas e misérias, como todas as histórias, mas subindo mais alto e descendo mais baixo, como as histórias de quem fica para a História. A história de uma viagem de sentidos, em busca da ilha dos amores. Fiz a mala, a mais pequena mala de que tenho memória, e lá dentro arrumei apenas um livro: Os Lusíadas. Parti. Parti por mapas e geografias dispersas, navegando sempre pelo mar português. Viajei dois meses sozinha – de Outubro a Dezembro de 2015 –, pisando todos os portos onde o poeta esteve. Só assim, e viajando também por versos e estrofes, o poderia sentir perto, e contar -vos esta história. Contornei o cabo da Boa Esperança num veleiro, aportei na ilha de Moçambique, segui para Mombaça, Melinde, Mascate, Ormuz, Damão, Diu, Goa, Cochim, Taprobana (hoje Sri Lanka), Malaca, Molucas, Vietname (foz do rio Mekong) e, por fim, Macau. Luís Vaz acompanhou -me a quase 500 anos de distância, ensinando -me o rumo para essa ilha, em pedaços repartida por todas as ilhas onde ancoramos. Esta é a história do que se poderá ter passado nesse tempo. Quem foram as verdadeiras musas de Luís Vaz? Quem foram mulheres de corpo, alma, nervos e sangue que o amaram? Que ele amou? Sabe-se pouco a respeito da vida do maior poeta português, sabe-se muito a respeito de um Portugal à beira de perder a independência. Procurei, através de uma pesquisa tão rigorosa quanto possível, dar voz às vozes que de tantas formas distintas amaram Luís Vaz. São sete as mulheres que escolhi para o acompanharem na travessia ou para o esperarem no fim do caminho, já que o amor também se faz de esperas. Além da madrasta que o criou como um filho – Ana de Sá–, ouvi D. Violante de Andrade, condessa de Linhares; D. Catarina de Ataíde; D. Francisca de Aragão; Bárbara; Dinamene; Inês de Sousa. Todas me contaram uma história de amor. Deixo-vos com estas mulheres e estas ilhas. Deixo-vos com Portugal e o Império. Deixo-vos entregues ao homem por quem me apaixonei.                                                       Estrela, Maio de 2016, 

Maria João Lopo de Carvalho, pág.15-16.


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